As relações de gênero no campo devem ser justas, igualitárias e equilibradas
Historicamente o espaço doméstico foi instituído como o único espaço de ação das mulheres. A construção da imagem da mulher como esposa-mãe-dona de casa cristalizou rígidos padrões de comportamentos, em especial no meio rural, definindo o espaço da rua e do trabalho no campo para o homem em detrimento do lar e do trabalho doméstico para a mulher. A definição dessas esferas criou juízos de valores e o trabalho doméstico foi considerado, pelo sistema liberal, como uma atividade não laboral, não produtiva e não remunerada, sendo então desvalorizado enquanto um trabalho com “T” maiúsculo. O trabalho doméstico, porém, está longe de ser invisível e não produtivo, ele possui uma importância social e econômica, principalmente em relação a uma gerência da economia familiar. Dentro da esfera do lar a mulher assume diversos protagonismos, como na escolha do que a família come e na transmissão de tradições e hábitos alimentares da família. As mãos femininas têm o poder de dominar a transformação dos alimentos e elas carregam diferentes saberes sendo guardiãs dos sabores familiares. Comemos o que nossa mãe nos ensinou a comer! Nessa perspectiva, o trabalho feminino foi (e ainda é) fundamental para a manutenção da agrobiodiversidade nas unidades de produção da agricultura familiar. Atualmente a mulher é quem mais domina o conhecimento ancestral de uso das plantas alimentícias não convencionais – PANC e das plantas medicinais. Também é frequentemente assumido pelas mulheres o papel de guardiãs das sementes crioulas, tradicionalmente mantidas na família por várias gerações. A invisibilidade da importância das mulheres para a soberania e segurança alimentar e nutricional das famílias, entre outras inúmeras razões, levaram a agroecologia a se somar ao movimento feminista em favor do reconhecimento do papel da mulher na sociedade. Sem feminismo não há agroecologia! Assim, a simples valorização do trabalho doméstico se torna insuficiente para superar as desigualdades e injustiças a que as mulheres foram historicamente submetidas. Para a agroecologia, a mulher deve participar de forma justa e igualitária das decisões do núcleo de gestão familiar. O trabalho masculino e o trabalho feminino não devem ser tratados com dicotomia, podendo ambos serem assumidos por quaisquer dos membros da família, sem hierarquia e dependência de gênero. A partir desse princípio, qualquer atividade de base agroecológica desenvolvida nos territórios, deve obrigatoriamente envolver as mulheres como personagens principais da ação, e fazer emergir seus saberes próprios, que não são menores que qualquer conhecimento formal e instituído.
MÃE TERRA
Poema da estudante Maryana Lopes Macedo (1ºB – Técnico em Agropecuária)
Por que esposa mãe e não agricultora?
Por que não posso ir para o campo como trabalhadora?
Por que desvalorizar algo importante,
como o coração de uma mulher radiante.
Do lar provém o alimento,
do campo eu tiro meu sustento.
Dentro de mim existem histórias
passadas de geração a geração guardadas na memória.
Se me retira do campo não sobrevivo,
pois é lá que colho, planto e cozinho;
bato no peito e tenho orgulho
das raízes do passado que serão levadas ao futuro.
Sou agricultora, criadora, batalhadora
me orgulho da mãe terra,
me orgulho do que faço,
peço respeito e valorização
porque sem nosso trabalho
você não teria arroz e feijão.
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